Desde a “idade da pedra”, os seres humanos fabricam e vendem seus instrumentos de forma manual para facilitar o dia a dia da sociedade. Algumas dessas práticas persistem até hoje. Então, por que mesmo diante disso, há a desvalorização do artesanato?
Trouxemos as três principais razões do artesanato ser desvalorizado pela sociedade. Para isso, contamos com a ajuda da educadora e mestre em história, Carina Calheiros.
Confere com a gente:
1. A Revolução Industrial e a desvalorização do artesanato
Como mencionamos, desde o princípio, desenvolvemos técnicas manuais úteis para o nosso cotidiano.
Elas geravam emprego e quem as produzia era valorizado por todos que a consumiam. Por exemplo, sem o artesão para fazer seu prato de barro naquela época, você não tinha outra opção a não ser comer no chão! Já pensou?
Entretanto, desde a Revolução Industrial e suas transformações na sociedade, o trabalho manual perdeu força. A partir disso, os homens que antes criavam junto de suas mulheres, agora operavam máquinas de produção em série.
Dessa forma, dois tipos de saberes foram considerados. Havia o saber manual, que passou a ser desvalorizado. Surgiu também o saber industrial, que pertencia aos homens que operavam nas fábricas por longas horas do dia e traziam sustento para a família.
Aliás, a Briselier já fez um comparativo entre os produtos artesanais e os industriais. Explicamos por A mais B os motivos pelos quais o artesanal é (e deve ser) mais caro que o industrial. Você pode conferir aqui.
2. Desvalorização do trabalho exercido por mulheres
A desvalorização do artesanato também possui forte relação com a participação das mulheres.
Da Revolução Industrial à Segunda Guerra Mundial, apesar de lutar por seus direitos, a mulher ainda ficava muito limitada ao espaço doméstico. Por isso, a maioria de suas atividades eram feitas dentro de casa, local onde a produção artesanal ficou armazenada.
Assim, enquanto os homens trabalhavam nas indústrias, as mulheres cumpriam tarefas domésticas e lidavam com a maternidade. Para completar a renda, produziam artesanato.
O trabalho manual das artesãs concorria com o mercado e as técnicas de produção em série. Por esse motivo, o artesanato foi um dos recursos para a emancipação feminina.
Em síntese, neste momento começamos a diferenciar dois modelos. Havia o “trabalho formal” e valorizado, ou seja, aquele que era feito normalmente por homens nas fábricas. Em contrapartida, o trabalho informal e desvalorizado, historicamente exercido por mulheres em seus lares.
O artesanato então é renegado duas vezes. Primeiro por ser uma atividade que não se adequou a produção industrial em massa por ser um trabalho manual e criativo. Segundo por ter ficado historicamente ligado às mulheres, à maternidade e ao espaço doméstico.
3. O machismo estrutural na desvalorização da arte como trabalho
Historicamente, os saberes dos homens foram mais valorizados do que os pertencentes às mulheres. Os homens ditavam o que tinha ou não valor. Logo, as peças que as artesãs desenvolviam eram vistas como algo sem valor, sendo apenas um objeto desenvolvido pela mulher para “passar o tempo”, como um hobby.
Esse pensamento reflete até hoje, quando vemos tantas reclamações sobre o preço cobrado pelo trabalho artesanal e pela desvalorização do produto enquanto arte. Nesse sentido, o machismo estrutural também está relacionado com a falta de consideração pelas horas de trabalho da artesã para a criação da peça.
Contra isso, a Briselier ensinou 5 passos principais para você definir o preço do seu produto artesanal de forma justa. Além disso, também criamos uma calculadora capaz de calcular o quanto você ganha por hora de trabalho.
Desse modo, valorizar o artesanato é apoiar um mercado mais humano e incentivar o trabalho manual e feminino. Nesse sentido, já sugerimos aqui algumas dicas práticas sobre como valorizar o trabalho artesanal, é só conferir. 😊
Um dos objetivos da Briselier é lutar para que todas as artesãs tenham seu trabalho valorizado de forma justa. Assim, podemos argumentar contra todos e todas que nos pedem um desconto. A partir disso, temos conteúdo para justificar com clareza nosso lugar de fala: informação é a alma da revolução.
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