Quem confecciona algum tipo de artesanato para vender, sabe que o valor final vai bem além dos materiais utilizados para produzir a peça. Afinal, no sistema econômico em que estamos inseridos, a nossa força de trabalho também é colocada à venda no mercado.
Mas, se o nosso produto artesanal e o trabalho manual são mercadoria, o quanto eles valem? Sabemos que o artesanato é um trabalho desvalorizado, muitas vezes até desconsiderado como arte, mas é importante questionar o que determina o valor desse trabalho.
Para desbravar esse tema, a Briselier se inspirou no vídeo da Rita von Hunty – sobre Mercado, Valor e Trabalho – para destrinchar como esses conceitos se aplicam na realidade do artesanato.
Vamos lá?
1. O valor da sua peça artesanal
Para entender o que determina o valor das peças artesanais para a sociedade, é preciso primeiro compreender o significado dessa palavra.
Toda mercadoria possui um valor, até mesmo a sua força de trabalho. Para que você consiga comprar uma bolsa, você precisa pagar pelo valor dela em dinheiro. Já para conseguir o dinheiro necessário para comprar a bolsa, você precisa ganhar o dinheiro com o esforço do seu próprio trabalho.
Desse modo, com base no sistema capitalista e industrial em que vivemos, dois tipos diferentes de valores dividem a visão do nosso produto: o valor de uso e o de troca. O valor de uso é aquele definido a partir da utilidade do produto ou serviço que você compra ou oferece. Já o valor de troca é considerado aquele que te atribui status.
Em síntese, uma bolsa de crochê, confeccionada por uma artesã, e uma bolsa de plástico, produzida pela Prada, possuem o mesmo valor de uso, mas diferentes valores de troca. Enquanto ambas servem para a mesma utilidade (guardar os seus acessórios), a sociedade atribui um valor maior para aquela vendida na Prada, por questão de prestígio social.
Um dos motivos dessa distinção é o apego pelas grandes produções industriais, que deslegitima o trabalho feito à mão e é um dos motivos que fizeram o artesanato ser historicamente desvalorizado.
2. O valor do trabalho artesanal
Se há valor de troca, existem também diferentes formas de consideração da sociedade com as forças de trabalho. Assim, o contexto ao qual estamos inseridos também nivela qual serviço “vale mais” do que o outro, separando o trabalho concreto do trabalho abstrato.
O trabalho concreto representa o tipo de serviço que você realiza com gasto de energia, como um dentista que cuida de cáries e realiza tratamentos odontológicos ou um artesão que produz vasos de porcelana. Já o trabalho abstrato representa o pacto social que a sociedade firmou, a partir das ideias dominantes da nossa geração, do que é considerado trabalho.Logo, o trabalho abstrato cria o valor, o trabalho concreto cria valor de uso.
Nesse sentido, um cirurgião e um marceneiro recebem diferentes tratamentos porque as ideias econômicas e sociais da nossa geração estabelecem quais desses trabalhos merecem um maior valor de troca.
3. O contexto socioeconômico
Se o valor de troca e o trabalho abstrato mudam de acordo com o nosso contexto socioeconômico, então podemos entender melhor quais fatores contribuem para a desvalorização de alguns serviços e produtos. Desse modo, é possível relacionar a nossa economia capitalista e industrial com a deslegitimação da arte do fazer à mão. Assim, se o trabalho artesanal é rebaixado, o valor das suas peças também é.
No pré-renascimento, por exemplo, o artesanato era considerado uma obra de arte digna de conquistar autoridades locais e se tornar uma tendência. Mas as mudanças sociais e econômicas alteraram essa realidade, como já explicamos aqui.
O tempo, a economia e os valores sociais estabelecem o quanto o seu artesanato vale. Logo, a representatividade e a luta pela valorização seguem sendo a principal forma de combate das artesãs contra o contexto capitalista e industrial.
O nosso modelo econômico e os ideais predominantes do mercado influenciam diretamente na forma de venda do artesanato e do trabalho manual. Por isso, é preciso ficarmos sempre vigilantes!
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