Quando o artesanato “deixou” de ser arte?

Quando falamos sobre arte, é comum que ilustrações, quadros pintados à mão ou esculturas famosas surjam no nosso imaginário. Entretanto, notamos também que produtos artesanais, como um vaso feito de barro ou um filtro dos sonhos, ficam de fora desse conceito.

Há quem diga que essa divisão é feita por motivos de apreciação ou utilidade (“a arte é para admirar, o artesanato é utilitário”), mas já mostramos que tanto a arte quanto o artesanato seguem uma definição semelhante e que, no fim das contas, tudo é domínio de técnica.

Diante disso, é comum se questionar: quando que o artesanato deixou de ser considerado arte? Sabemos que a técnica artesanal é desvalorizada há anos (e te contamos aqui o porquê disso), mas raramente nos perguntamos qual foi o ponto de partida disso.

Por isso, para solucionar esse mistério, a Briselier te convida para uma viagem histórica para conhecer o ponto de virada do nosso artesanato enquanto categoria “arte”. Vamos lá?

1. Período Pré-Renascimento

O artesanato já existia entre os anos de 1300 e 1350. Afinal, desde a “idade da pedra”, os seres humanos fabricam e vendem seus instrumentos de forma manual para facilitar o dia a dia da sociedade. No período pré-renascentista, ainda não existia o conceito de “artista” da forma que conhecemos hoje.

Nesta época, a maioria dos produtos eram feitos à mão e todos esses profissionais que praticavam o ofício artesanal – seja têxtil, de pedra, tinta ou a partir de outros materiais – trabalhavam juntos em um mesmo local, como um atelier.

Por meio de anos de prática, progressos e conquistas, passados de geração a geração, esses profissionais apresentavam coletivamente seus produtos manuais a um rei e recebiam uma recompensa, de acordo com o nível de detalhes, utilidade ou beleza. Diante disso, a aquisição deste produto passava a ser considerado um símbolo de status social, não só pela beleza mas também pela popularização de algo que se tornava uma tradição local

Desse modo, o artesanato era considerado uma obra de arte digna de conquistar autoridades locais e se tornar uma tendência.

2. Renascimento

O ponto de virada começou a partir dos anos 1400. O Humanismo Renascentista, movimento intelectual francês que pregava um novo ideal cultural, incentivava a reformulação de trabalhos clássicos a partir da criatividade individual. Ou seja, a produção artística individual passou a ser mais difundida do que a coletiva.

Nesse sentido, aqueles profissionais que se dedicavam a apresentar um trabalho artístico produzido individualmente passaram a receber prêmios da realeza baseados no seu mérito. Diante disso, em 1550, após uma vasta produção de inúmeros artesãos, Giorgio Vasari, amigo de Michelangelo, publicou um influente livro chamado “Vidas dos Artistas”.

Esta publicação foi uma das responsáveis por elevar o status desses profissionais e promover a separação da arte e do artesanato, sendo a arte um patamar superior e criativo desenvolvida por grandes artistas. Em contrapartida, aqueles que seguiam as produções tradicionais tinham seu trabalho visto como “inferior” ou “meramente utilitário”.

3. O aspecto criativo da arte

Em muitas culturas não ocidentais, não houveram mudanças significativas na concepção entre arte e artesanato. Apesar disso, muitos trabalhos artesanais, como uma manta ou vaso de porcelana, só são incluídos na categoria de arte por um único motivo: inovação.

Assim, produtos artesanais que eram considerados “primitivos”, ou seja, sem um elemento criativo diferente do usual, não eram vistos como arte. Entretanto, essas mesmas peças eram desenvolvidas justamente com esse propósito: preservar as tradições visuais, criando apenas uma releitura, que não deixa de ser artística.

Anos depois, sob esse mesmo ponto de vista, foram elaboradas vários outros modelos de peças baseados em uma técnica tradicional, como o crochê criativo ou moderno. Você pode ler mais sobre esse tipo de crochê clicando aqui.



Nas últimas décadas, o artesanato tem ganhado mais visibilidade, mas ainda é raro ver uma peça artesanal sendo classificada como arte ou um artesão conseguindo o reconhecimento de artista. 

Portanto, lutar pela valorização do artesanato é um dos primeiros passos para que possamos conquistar novamente um espaço digno e reconhecido para o trabalho feito à mão. Para aprender algumas dicas práticas para valorizar produtos artesanais, basta clicar aqui

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Um abraço e até a próxima!

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